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Soluções Baseadas na Natureza são essenciais para cidades costeiras

A natureza oferece diversos benefícios para as cidades, muitas vezes de forma mais econômica que as intervenções da engenharia convencional

Autor: Malu NunesFonte: De Assessoria de Imprensa

Por Malu Nunes

Cidades engolidas pelo mar podem parecer cena de ficção científica, com previsões exageradas sobre o fim do mundo. No entanto, um novo alerta da agência Nasa, dos Estados Unidos, no último mês de março mostrou que, em 2024, o nível global do oceano subiu 0,59 centímetros, superando as previsões iniciais de 0,43 centímetros. Os cientistas apontam um crescimento acelerado desse processo, que já ultrapassou 10 centímetros nas últimas três décadas.

No Brasil, cidades e regiões como a Ilha do Governador (RJ), Duque de Caxias (RJ), Ilha do Marajó (PA), Belém (PA), Oiapoque (AP), Reserva Biológica do Lago Piratuba (AP), Parque Nacional dos Lençois Maranhenses (MA), Porto Alegre (RS) e Pelotas (RS) estão entre as mais vulneráveis, de acordo com a Nasa, enfrentando riscos cada vez maiores de inundações e erosão.

As crises climática e de biodiversidade têm afetado um número crescente de pessoas, populações inteiras, exigindo ações urgentes de adaptação e resiliência. Nesse contexto, a natureza pode e deve ser uma grande aliada. As Soluções Baseadas na Natureza (SBN) aproveitam benefícios naturais para mitigar impactos ambientais e sociais, ao mesmo tempo em que restauram ecossistemas e fortalecem a resiliência das cidades.

Investir em SBN é essencial para preparar os centros urbanos para eventos climáticos extremos e torná-los sustentáveis e adaptados. No caso das cidades costeiras, essas soluções são ainda mais urgentes. No Brasil, cerca de 54,8% da população vive a até 150 quilômetros da costa, conforme o Censo de 2022, o que destaca a urgência de estratégias para proteger essas regiões. A falta de planejamento urbano e a ocupação desordenada agravam a vulnerabilidade dessas localidades, tornando-as mais suscetíveis a enchentes e erosão.

Durante a mais recente Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a COP 29, no Azerbaijão, a Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica apresentou um mapeamento dos principais riscos enfrentados pelas zonas costeiras brasileiras e elencou exemplos de SBN para a adaptação das cidades ao atual momento climático. Entre eles, o Parque Orla Piratininga, em Niteroi (RJ). Considerado o maior projeto de SBN no país, o parque alia infraestrutura verde a espaços de lazer, prevenindo enchentes e melhorando a qualidade da água da Lagoa de Piratininga. Com 680 mil metros quadrados, inclui ciclovias, trilhas e sistemas ecológicos como biovaletas e alagados construídos.

É preciso disseminar os diversos benefícios que a natureza oferece para a cidade, muitas vezes de forma mais econômica do que intervenções convencionais. São desde telhados e tetos verdes, jardins de chuva e parques de bolso - que contribuem para a absorção de água da chuva pelo solo e conforto climático - até projetos mais complexos como soluções de eco engenharia para conter a força das ondas do mar, parques alagáveis, parques lineares, jardins filtrantes, corredores ecológicos e biovaletas. Também podem ser consideradas SBN a conservação e recuperação de ecossistemas naturais costeiros como florestas, manguezais, marismas, restingas e recifes de corais.

Esses exemplos mostram que é possível criar soluções para minimizar os impactos ambientais e fortalecer nossas comunidades. No entanto, a implementação de SBN deve fazer parte de uma abordagem mais ampla, envolvendo planejamento urbano integrado, políticas públicas eficazes e, principalmente, o engajamento das comunidades locais. A participação ativa da população permite que essas soluções se tornem práticas permanentes no cotidiano das cidades.

O momento de agir é agora. Se as cidades brasileiras ampliarem o uso dessas práticas, o país poderá se tornar um exemplo global de resiliência urbana frente aos impactos das mudanças climáticas. A transformação está ao nosso alcance e depende de cada um de nós valorizarmos e compreendermos a natureza como aliada para um futuro sustentável.

*Malu Nunes é diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)

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